Na noite de 9 de julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia seguinte Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta), mas não houve tempo e Vinicius de Moraes morreu pela manhã.
No fim da década de 1920 Vinicius de Moraes produziu letras para dez canções gravadas - nove delas parcerias com os Irmãos Tapajós;. Seu primeiro registro como letrista veio em 1928, quando compôs (com Haroldo) "Loira ou Morena", gravado em 1932 pela dupla de irmãos. Vinicius teve publicado seu primeiro livro de
poemas,
O Caminho para a Distância, em 1933, e lançou outros livros de poemas nessa década. Foram também gravadas outras canções de sua autoria, como "Dor de uma Saudade" (composta com Jaquim Medina), gravada em 1933 por João Petra de Barros e Joaquim Medina, "O Beijo Que Você Não Quis Dar" (composta com Haroldo Tapajós) e "Canção da Noite" (composta com Paulo Tapajós), ambas gravadas em 1933 pelos Irmãos Tapajós e também "Canção para Alguém" (composta com Haroldo Tapajós), gravada pelos mesmos um ano depois.
TRANSFORMAÇÃO
Em 1954, Vinícius publica sua coletânea de poemas,
Antologia Poética, mesmo ano que publica sua peça teatral
Orfeu da Conceição, premiada no concurso do IV Centenário de São Paulo e publicada na revista
Anhembi. Dois anos depois, quando Vinicius buscava alguém para musicar a peça, e aceitou a sugestão do amigo Lúcio Rangel para trabalhar com um jovem pianista,
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, que na época tinha 29 anos e vivia da venda de músicas e arranjos nos inferninhos de
Copacabana.
Do encontro entre Vinícius e Tom nasceria uma das mais fecundas parcerias da música brasileira, que a marcaria definitivamente. Os dois compuseram a
trilha sonora, que incluía "Lamento no Morro", "Se Todos Fossem Iguais A Você", "Um Nome de Mulher", "Mulher Sempre Mulher" e "Eu e Você" e foram lançadas em disco por Roberto Paiva, Luiz Bonfá e Orquestra. Além destas canções, a dupla Vinicius e Tom compuseram, entre outros clássicos, "A Felicidade", "Chega de Saudade", "
Eu sei que vou te amar", "
Garota de Ipanema", "Insensatez", entre outras belas canções.
Em 1957 teve sua carreira diplomática transferida para
Montevidéu, onde permaneceu por três anos.
O ano de 1958 marcaria o início de um dos movimentos mais importantes da música brasileira, a
Bossa Nova. A pedra fundamental do movimento veio com o álbum "Canção do Amor Demais", gravado pela cantora
Elizeth Cardoso. Além da faixa-título, o antológico LP contava ainda com outras canções de autoria da dupla Vinicius e Tom, como "Luciana", "Estrada Branca", "Outra Vez" e "Chega de Saudade", em interpretações vocais intimistas.
"Chega de Saudade" foi uma canção fundamental daquele novo movimento, especialmente porque o álbum de Elizeth Cardoso contou com a participação de um jovem violonista, que com seu inovador modo de tocar o violão, caracterizado por uma nova batida, marcaria definitivamente a bossa nova e a tornaria famosa no mundo inteiro a partir dali,
João Gilberto. A importância do disco "Canção do Amor Demais" é tamanha que ele é tido como referência por muitos artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso.
Várias das composições de Vinicius foram gravadas na metade final daquela década por outros artistas.
Joel de Almeida gravou "Loura ou Morena" (1956). No ano seguinte, Aracy de Almeida gravou
"Bom Dia, Tristeza" (composta com
Adoniran Barbosa),
Tito Madi gravou "Se Todos Fossem Iguais A Você",
Bill Farr gravou "Eu Não Existo Sem Você",
Agnaldo Rayol gravou "Serenata do Adeus" e
Albertinho Fortuna gravou "Eu Sei Que Vou Te Amar". "O Nosso Amor" e "A Felicidade" foram duas das canções mais lançadas no final daquela década. A primeira foi gravada por
Lueli Figueiró e
Diana Montez, ambas em 1959. Já a segunda foi lançada por Lueli Figueiró,
Lenita Bruno,
Agostinho dos Santos e João Gilberto.
Suas canções continuaram sendo gravadas por muitos artistas no início da década de 1960. Foram lançadas "Janelas Abertas" (composta com Tom Jobim), por Jandira Gonçalves, e "Bate Coração", (composta com Antônio Maria), por Marianna Porto de Aragão, cantora cultuada na época como uma das vozes mais poderosas de toda uma geração de cantoras .No ano seguinte, Vinicius registrou pela primeira vez sua voz, em um álbum contendo os sambas
"Água de Beber" e
"Lamento no Morro", novamente parcerias com Tom Jobim. O poeta teria também um novo parceiro naquele período, o cantor, compositor e violonista
Carlos Lyra. Com ele, Vinicius iria compor clássicos como "Você e Eu", "Coisa Mais Linda", "A Primeira Namorada" e "Nada Como Te Amar". Ainda em 1961, o
Teatro Santa Rosa foi inaugurado no Rio de Janeiro com "Procura-se uma rosa", peça de autoria de Vinicius, Pedro Bloch e Gláucio Gil - filmada depois pelo cinema italiano com o nome de "Una Rosa per Tutti" (o
longa-metragem foi rodado no Rio e estrelado por Cláudia Cardinale).
Em
1962, a Banda do Corpo de Bombeiros fluminense gravou "Serenata do Adeus", um ano após gravarem "Rancho das Flores", marcha-rancho com versos do poeta sobre tema de
Jesus, Alegria dos Homens, de
Johann Sebastian Bach. Ainda naquele ano, enquanto "Canção da Eterna Despedida" (composta com Tom Jobim) "Em Noite de Luar" (composta com
Ary Barroso) foram gravadas por
Orlando Silva e
Ângela Maria, respectivamente, Vinicius de Moraes publicou três livros:
Antologia Poética,
Procura-se Uma Rosa e
Para Viver Um Grande Amor.
Com
Pixinguinha, compôs a trilha sonora do filme
Sol sobre a Lama, de
Alex Vianny, escrevendo as letras para os
chorinhos "Lamento" e "Mundo Melhor". Também naquele período, nasceu a parceria com o compositor e violonista
Baden Powell. Desta, resultariam inúmeros sucessos, como "Apelo", "Canção de Amor", "Canto de Ossanha", "Formosa", "Mulher Carioca", "Paz", "Pra Que Chorar", "Samba da Bênção",
"Samba Em Prelúdio", "Só Por Amor", "Tem Dó", "Tempo Feliz", entre outras.
Em agosto de 1962, com Tom Jobim, João Gilberto e o grupo
Os Cariocas, Vinicius de Moraes participou de "Encontro", um dos mais importantes concertos da bossa nova e realizado na boate "Au Bon Gourmet", no Rio de Janeiro. Neste show, foram lançadas clássicos da música popular brasileira como "Ela é Carioca", "Garota de Ipanema", "Insensatez", "Samba do Avião" e "Só Danço Samba". Naquela mesma casa noturna foi montada "Pobre Menina Rica", mais uma peça do poeta, cuja trilha sonora trazia canções como
"Sabe Você", "Primavera" e "Samba do Carioca" (lançando a cantora Nara Leão),12 ambas parcerias com Carlos Lyra. Ainda naquele ano, Vinicius comporia com Lyra "Marcha da Quarta-feira de Cinzas" e "Minha Namorada".
Naquele mesmo período, Vinicius de Moraes lançou com a
atriz Odete Lara seu primeiro álbum:
Vinicius e Odete Lara. Com arranjos e regência do poeta Moacir Santos, o LP continha canções da parceria com Baden Powell, como "Berimbau", "Mulher Carioca", "Samba em Prelúdio" e "Só por Amor", entre outras. Ainda em 1963, o selo Copacabana lançou o álbum
"Elizeth Interpreta Vinicius", contendo as parcerias do poetinha com Baden Powell, Moacir Santos (e arranjos deste), Nilo Queiroz e
Vadico
Em 1964 Vinicius retornou ao Brasil e logo se apresentou na boate "Zum Zum", ao lado de
Dorival Caymmi,
Quarteto em Cy e o
Conjunto de Oscar Castro Neves. O concerto teve grande repercussão nos meios artísticos e foi lançado em LP pelo selo Elenco, contendo composições como "Bom-dia, Amigo" (parceria com Baden Powell), "Carta ao Tom", "Dia da Criação" e "Minha Namorada" (parcerias com Carlos Lyra), e "Adalgiza", "...Das Rosas", "História de Pescadores" e "Saudades da Bahia" (parcerias com o cantor, compositor e violonista Dorival Caymmi).
Duas canções de Vinicius de Moraes concorreram, em 1965, o I Festival Nacional de Música Popular Brasileira (da extinta
TV Excelsior). "Arrastão" (composta com
Edu Lobo), defendida por
Elis Regina, ficou com o primeiro lugar, e "Valsa do Amor que Não Vem" (parceria com Baden Powell), defendida por Elizeth Cardoso, ficou com o segundo lugar. Também com o arranjador, cantor e instrumentista Edu Lobo, Vinicius compôs "Zambi" e "Canção do Amanhecer" - canções que se engajaram no clima de protesto da época e foram apresentadas em projetos do Centro Popular de Cultura da
União Nacional dos Estudantes (UNE). Por um breve período, Vinicius foi designado para trabalhar na delegação do Brasil junto à
UNESCO, na
Europa. O poeta também trabalhou com o diretor
Leon Hirszman no roteiro do filme
Garota de Ipanema, voltou a se apresentar no Zum Zum com Dorival Caymmi e lançou o livro "Cordélia e o Peregrino".
Ainda em 1965, o
Teatro Municipal de São Paulo foi o palco de uma homenagem para o poetinha, com o show
Vinicius: Poesia e Canção, espetáculo que contou com a participação da
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (sob a regência do maestro
Diogo Pacheco). As composições apresentadas receberam arranjos dos maestros Guerra Peixe, Radamés Gnattali, Luís Eça, Gaya e Luís Chaves e contou com intérpretes com
Carlos Lyra, Edu Lobo, Suzana de Morais,
Francis Hime,
Paulo Autran,
Cyro Monteiro e Baden Powell. Quando o poeta terminou a apresentação de "Se Todos Fossem Iguais A Você", a platéia respondeu com dez minutos ininterruptos de aplausos.
Em
1966, foi lançado o álbum
Os Afro-Sambas, com suas composições em parceria com Baden Powell. Constam do repertório do disco "Canto de Ossanha", "Canto de Xangô", "Canto de Iemanjá" e "Lamento de Exu", entre outras, além da participação de Powell tocando violão. Naquele mesmo período, Vinicius participou do concerto
Pois É, no Teatro Opinião, ao lado de
Maria Bethânia e
Gilberto Gil. No espetáculo dirigido pelo arranjador, compositor, maestro e pianista Francis Hime, o público carioca conheceu pela primeira vez as canções de Gilberto Gil. Ainda naquele ano, lançou o livro de crônicas
Para Uma Menina Com Uma Flor e também foi convidado a participar do júri do Festival de Cannes. Na ocasião, descobriu que sua canção "Samba da Bênção" havia sido utilizada, sem os devidos créditos, na trilha sonora do filme
Um homem e uma mulher, do diretor francês
Claude Lelouch, vencedor do festival. Após uma ameaça de processo, a obra de Lelouch creditou a canção de Vinicius. O ano de 1967 marcou a estréia do filme
Garota de Ipanema, baseado no sucesso homônimo de Vínicius. Ainda naquele período, Vinícius organizou um festival de artes em Ouro Preto e excursionou para a
Argentina e o Uruguai.
Naquele mesmo período, iniciou suas primeiras composições com o violonista
Toquinho. Desta parceria, viriam clássicos como "Como Dizia o poeta", "Tarde em Itapoã" e "Testamento".
Em 1970 Vinicius se apresentou na casa de espetáculo carioca Canecão, com o parceiro Tom Jobim, o violonista Toquinho e a cantora
Miúcha. Outra apresentação marcante de Vinícus de Moraes, ao lado de Toquinho e da cantora Maria Creuza, foi em a cidade argentina de Mar del Plata, na boate La Fusa. O concerto resultaria no LP ao vivo
Vinicius En La Fusa, uma das mais belas joias gravadas ao vivo da música brasileira.
No ano seguinte, Vinicius voltou à Fusa para gravar um novo LP ao vivo, também com Toquinho, mas desta vez com a cantora
Maria Bethânia nos vocais. Neste álbum estão presentes canções com "A Tonga da Mironga do Kabuletê", "Testamento" e "Tarde em Itapoã". Também em 1971, assinou com Chico Buarque, sobre antigo choro de Garoto, a canção "Gente Humilde", grande sucesso gravada pelo próprio Chico e, pouco depois, por Ângela Maria.
A parceria Vinicius/Toquinho excursionou por várias cidades brasileiras e também pelo exterior. Ainda em 1971, a dupla lançou seu primeiro LP de estúdio, com destaque para
"Maria Vai com as Outras",
"Morena Flor",
"A Rosa Desfolhada" e
"Testamento". Em
1972, eles lançaram o álbum
"São Demais os Perigos Dessa Vida", contendo - além da faixa-título - grandes sucessos como
"Cotidiano nº 2",
"Para Viver Um Grande Amor" e
"Regra três". Com Toquinho, também compôs a trilha sonora da
telenovela "Nossa Filha Gabriela" (da extinta
TV Tupi), registrada em disco naquele mesmo ano. No ano seguinte, a dupla se apresentou no show
"O Poeta, a Moça e o Violão", com a cantora
Clara Nunes no Teatro Castro Alves, em
Salvador.
Em 1974 Vinicius e Toquinho compuseram "As Cores de Abril" e "Como É Duro Trabalhar", ambas incluídas na trilha sonora da novela
Fogo Sobre Terra, da
Rede Globo. Naquele mesmo ano, a parceria lançou o álbum
Toquinho, Vinicius e Amigos. O disco teve as participações de Maria Bethânia (em "Apelo" e "Viramundo"),
Cyro Monteiro ("Que Martírio" e "Você Errou", últimas gravações deste cantor), Maria Creuza ("Tomara" e "Lamento no Morro"),
Sergio Endrigo ("Poema Degli Occhi" e "La Casa") e Chico Buarque ("Desencontro"). Ainda naquele ano, a dupla lançou "Vinicius e Toquinho", quarto álbum de estúdio da parceria, que trazia composições de autoria deles, como "Samba do Jato", "Sem Medo" e "Tudo Na Mais Santa Paz", e ainda "Samba pra Vinicius", homenagem ao poetinha de Toquinho e Chico Buarque, que fez uma participação especial no disco.
Em 1975 Vinicius de Moraes lançou o álbum "O Poeta e o Violão". Gravado em
Milão, o LP teve a participação especial dos maestros Bacalov e Bardotti. No mesmo ano, a gravadora Philips lançou o álbum
"Vinicius e Toquinho". Deste LP, destaca-se "Onde Anda Você" - parceria com
Hermano Silva e que alcançou grande sucesso. Ainda naquele ano, Vinicius lançou o livro de poemas infantis
A Arca de Noé. Foram lançados em no ano seguinte os álbuns
Ornella Vanoni, Vinicius de Moraes e Toquinho - La voglia, la pazzia, l'incoscienza e l'allegria e
Deus lhe Pague - este com as composições da parceria Vinicius e Edu Lobo.
Vinicius teve publicado, em 1977, o livro
O Breve Momento, com 15
serigrafias de
Carlos Leão. Naquele ano, o selo Philips lançou o álbum
"Antologia Poética", uma seleção da obra poética do poetinha e que teve a participação especial de Tom Jobim, Francis Hime e Toquinho. A gravadora Som Livre disponibilizou no mercado o LP
Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha - Ao Vivo no Canecão. Em 1978 foi lançado o álbum
Vinicius e Amália, gravado em Lisboa com a cantora portuguesa
Amália Rodrigues. Naquele mesmo ano, foi editado o álbum
"10 Anos de Toquinho e Vinicius" - uma coletânea de uma década de trabalhos da dupla. Em 1980 foi lançado o álbum
Arca de Noé, que trouxe diversos intérpretes para as composições infantis do poeta, musicadas a partir do livro homônimo. O disco gerou um especial infantil na Rede Globo, naquele mesmo ano.